outras tantas madrugadas

sexta-feira, outubro 28, 2005

olhares

Dizeres-me, naquela noite, que vejo a vida como um conjunto de coisas más onde, ocasionalmente, aparece uma ou outra coisa boa, foi o tiro menos certeiro que alguma vez deste. Se fosse verdade, terias marcado o alvo para sempre. Assim, só engrossaste a lista de danos colaterais - o pior que pode acontecer a quem dispara. Pela tremenda injustiça, pela mágoa de me ver vista assim pelos teus olhos, pelo desconforto da dúvida surda que instalaste em mim, como uma úlcera crónica (as verdades doem mais, sangram mais... mas mais tarde ou mais cedo cicatrizam e deixam uma fibrose espessa, resistente e que de tão feia ainda nos serve de "lembrete"... percebes a diferença?).
Hoje o meu dia foi triste, medíocre e recheado de azarezinhos virulentos. Não fiz nem disse nada que batesse certo, nem para mim nem para nenhuma das pessoas com quem me cruzei. Passei-o a tropeçar. Tenho a minha auto-estima fechada numa sub-cave sem janelas e a única coisa que valeu a pena foi ter o sorriso de fraldas mais sábio que conheço a dar-me colo, a mim.
Hoje o meu dia foi só isto. Exactamente como disseste que vejo a vida. E mesmo assim recuso-me a dar-te razão. Não por orgulho, que normalmente me sobra. Não porque possa jurar que a vida nunca é essa sucessão de pequenas tragédias. Mas porque ainda acredito nos meus olhos.
Dou-lhes folga neste resto de noite e deixo-me chorar baixinho à espera que adormeçam. Amanhã pedir-me-ão desculpa por se terem enganado e voltarão a dar à vida a oportunidade que merece. Tenho a certeza.

2 Comments:

  • At 28/10/05 10:11, Blogger clarisca said…

    Contesto tudo (menos a parte do sorriso de fraldas mais sábio que conheces). Contesto a falta de marcas que deixaste em quem esteve contigo. Porque nos rimos, porque dissemos disparates, porque fizemos confissões. E eu estava lá e vi. Isso não é triste nem medíocre e muito menos azaradinho. O resto é só o mundo a pôr-nos à prova.

     
  • At 28/10/05 12:16, Blogger joana said…

    Sabes como tenho a certeza de que o teu dia não foi só 'isto'? Porque o li Ana, porque estás também aqui, para nós e connosco, como tens estado sempre, porque andas simplesmente a descobrir novas formas de ser Ana, a mesma Ana.

     

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