outras tantas madrugadas

terça-feira, novembro 29, 2005

contemplação

Guardo-te para o fim, quase sem dar conta.
Concentro-me. Resisto. Faço diligentemente tudo o que prometi fazer esta noite. Fico vagamente tranquila. Só depois me dou tempo para andar sem rumo pelas ruas, a adivinhar os vultos por trás das janelas, a abrir portas, a roubar flores dos canteiros. E só depois te procuro. Quase sem dar conta, guardo para o fim a melhor parte. Guardo-te para o fim. Sustenho a respiração e fecho os olhos por um instante, a antecipar o encontro, a desejar que lá estejas. E espreito. Imóvel, em silêncio, acredito por um momento que me falas ao ouvido, que me manténs suspensa nos teus braços, que saberás esperar por mim só mais um pouco, e eu por ti (ainda não é tempo, hoje gritaram-me que ainda não é tempo) e que, afinal, não basta que te guarde para o fim de cada um dos meus dias porque, hoje ainda, me aguardas para o princípio dos teus.