outras tantas madrugadas

segunda-feira, janeiro 23, 2006

amor e caldos de galinha

Às vezes gostava que fosses uma "mãe-de-aldeia", conhecedora dos pequenos milagres da vida, como o florir das árvores de fruto ou o levedar do pão. Gostava de te encontrar à lareira, tranquila e de pazes feitas com cada dia, a limpar as mãos ásperas ao avental antes de me segurares com firmeza para me dares um beijo. Gostava que me ouvisses em silêncio (pouco importa se por ignorância ou por grandeza de coração) e que te bastasse alegrares-te com as minhas alegrias e chorar comigo as minhas lágrimas sem arriscares opinar tanto sobre a minha vida. Gostava que o teu amor fosse simples e incondicional como o amanhecer depois de cada noite, porque foi ele que me trouxe ao mundo e de nenhum outro se pode esperar tal coisa.
(Ontem, depois da missa, terias dito às vizinhas: "Só sei que anda pálida, cansada e me parece triste... nas conversas que tem com a vida não me meto porque só as duas é que podem entender-se. Quando vem a casa mato uma galinha e faço-lhe uma canja; quando vai embora dou-lhe a bênção e rezo por ela...". E bastava.)