Hoje tive apenas um doente sentado na minha cadeira do consultório. Os outros saltaram directamente da sala de espera para os comandos de uma nave espacial (avião, para alguns... esqueço-me que o "Era uma vez o espaço" já não dá ao sábado de manhã), com direito a luz no volante, elevador na cadeira e almofada debaixo do rabo. De volta à Terra, quiseram ver tudo. Mostrei: um frasquinho com compota de morango, um espelho pequenino para quem é só um bocadinho vaidoso, uma caixa com almofadinhas de algodão, uma bisnaga de água para regar as violetas à distância, uma pinça atrevida que aperta narizes, uma escova que faz cócegas, uma palhinha mágica que bebe a água do copo. Esgotaram-me o stock de palhaçadas, adjectivos e diminutivos. Abriram a boca como os leões, os dragões e os benfiquistas matulões. Juntos, pusemos línguas a dormir, caçámos milhares de bichos‑pequeninos‑chamados‑micróbios, tapámos as suas tocas para não voltarem, pintámos de branco os dentes novos, contámos com atenção quantas vezes apitou a luz azul (“Três! Já tá!”). Duas mãos grandes a fazer todas estas coisas e uma pequenina a marcar o compasso (“braço no ar é p’ra parar” e o prometido é devido…): tossiram muito, fizeram caretas, beberam água, tiraram sapatos; dois pediram para fazer xixi; uma fez xixi na almofada.
Depois de tudo isto, quem não merece um prémio? Aos 7 anos "o que está a dar" são balões, canetas e bolas saltitonas... Aos 28, gostei de receber uma dúzia de sorrisos e mais alguns desenhos para a minha parede.
Voltam em Outubro.