outras tantas madrugadas

quarta-feira, julho 20, 2005

estranhamente...

.
tenho-me esquecido de passar por aqui
estou mais magra, apesar das porcarias que tenho comido
tenho sempre sono e olheiras até aos cotovelos, por mais que durma
faltam-me as forças até para fazer o que mais gosto
todos os dias me tem apetecido atirar alguém pela janela
.
o Simposium Terapêutico salta directamente do Fenolip para o Fermetone
as Férias não são comparticipadas por nenhum dos subsistemas de saúde

quarta-feira, julho 06, 2005

olhos nos olhos

A propósito de querer dar a alguém uma força que me falta; a propósito de vias verdes, cristais e fragilidades; a propósito das tuas palavras e da conversa que guardámos para amanhã... lembrei-me de outra "conversa" e das palavras que ficaram para a lembrar. Não sei se me doeu mais escrevê-las naquela noite alucinada ou constatar hoje que já quase não me doem. E que continuo tão longe.

Aqui me tens, Senhor,
olhos nos olhos.
E ainda assim a dúvida persiste.
Quando, a teus pés, já nada em mim se entrega;
quando, em teus braços, o coração resiste...

já não sou eu, Senhor,
que te renego.
És tu que o dom de crer não queres em mim.
Findo este grito desolado, de abandono,
o teu silêncio é esmagador. Mas, mesmo assim,

continuarei, Senhor,
a procurar
os gestos onde o teu amor existe.
Se em ti não queres que creia, crê em mim
e em cada pecador que não desiste.

(22-03-2003)

sexta-feira, julho 01, 2005

balões, canetas e bolas saltitonas

Hoje tive apenas um doente sentado na minha cadeira do consultório. Os outros saltaram directamente da sala de espera para os comandos de uma nave espacial (avião, para alguns... esqueço-me que o "Era uma vez o espaço" já não dá ao sábado de manhã), com direito a luz no volante, elevador na cadeira e almofada debaixo do rabo. De volta à Terra, quiseram ver tudo. Mostrei: um frasquinho com compota de morango, um espelho pequenino para quem é só um bocadinho vaidoso, uma caixa com almofadinhas de algodão, uma bisnaga de água para regar as violetas à distância, uma pinça atrevida que aperta narizes, uma escova que faz cócegas, uma palhinha mágica que bebe a água do copo. Esgotaram-me o stock de palhaçadas, adjectivos e diminutivos. Abriram a boca como os leões, os dragões e os benfiquistas matulões. Juntos, pusemos línguas a dormir, caçámos milhares de bichos‑pequeninos‑chamados‑micróbios, tapámos as suas tocas para não voltarem, pintámos de branco os dentes novos, contámos com atenção quantas vezes apitou a luz azul (“Três! Já tá!”). Duas mãos grandes a fazer todas estas coisas e uma pequenina a marcar o compasso (“braço no ar é p’ra parar” e o prometido é devido…): tossiram muito, fizeram caretas, beberam água, tiraram sapatos; dois pediram para fazer xixi; uma fez xixi na almofada.
Depois de tudo isto, quem não merece um prémio? Aos 7 anos "o que está a dar" são balões, canetas e bolas saltitonas... Aos 28, gostei de receber uma dúzia de sorrisos e mais alguns desenhos para a minha parede.
Voltam em Outubro.