outras tantas madrugadas

terça-feira, novembro 29, 2005

contemplação

Guardo-te para o fim, quase sem dar conta.
Concentro-me. Resisto. Faço diligentemente tudo o que prometi fazer esta noite. Fico vagamente tranquila. Só depois me dou tempo para andar sem rumo pelas ruas, a adivinhar os vultos por trás das janelas, a abrir portas, a roubar flores dos canteiros. E só depois te procuro. Quase sem dar conta, guardo para o fim a melhor parte. Guardo-te para o fim. Sustenho a respiração e fecho os olhos por um instante, a antecipar o encontro, a desejar que lá estejas. E espreito. Imóvel, em silêncio, acredito por um momento que me falas ao ouvido, que me manténs suspensa nos teus braços, que saberás esperar por mim só mais um pouco, e eu por ti (ainda não é tempo, hoje gritaram-me que ainda não é tempo) e que, afinal, não basta que te guarde para o fim de cada um dos meus dias porque, hoje ainda, me aguardas para o princípio dos teus.

sexta-feira, novembro 25, 2005

parvoíces

o vinho não era bom,
a banda não tinha tom
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quinta-feira, novembro 24, 2005

casa comigo...

quarta-feira, novembro 23, 2005

lamento

o mais triste de não acreditar em Deus é não poder dizer às pessoas de quem gostamos "rezo por ti!" quando o coração se aperta por elas

a ti que estás "muito lá longe"

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agradeço e retribuo
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(bem como à menina linda que me ofereceu esta música e que também gosta muito de ti)

nós

Não tencionava ficar até ao fim. Nem me dei ao trabalho de ligar a ficha...
Só percebi (por) que fiquei quando, quase sem bateria, na última cena e num último esforço, o ecrã se apagou, deixando apenas a música a tocar e o reflexo dos meus olhos no fundo negro, a olhar-me de frente sem dó nem piedade.
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(De facto, quanto mais tento desatá-lo, mais o aperto... e, estranhamente, quando vejo com mais clareza é quando se torna mais cego. E agora?)

terça-feira, novembro 22, 2005

cá dentro

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de novo o nó. aquele. o irritante
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domingo, novembro 20, 2005

casas

Roubo as palavras à Inês, que não conheço e que mora numa casa aqui ao lado (já agora, leiam também as do Manuel, que também não conheço, citado pela Inês no mesmo post). Para quê tentar escrever de novo o que alguém já escreveu por nós? Pudesse eu encontrar uma casa como encontrei estas linhas: tão por acaso, tão oportunamente, tão à medida do que sou e do que sinto.
Da minha lavra, deixo apenas o convite, público e formal, à Inês, para que venha um dia tomar chá à casa a que possa chamar minha. Sonho com as almofadas que terá no chão e com as palavras de quem, sentado nelas, se sinta em casa.
E continuo à procura. De casa e de palavras.
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"Gosto de casas vazias, gosto de paredes brancas. Não gosto de entrar em casas em que parece que acabei de abrir uma revista, não me atrevo a sentar no sofá, a mexer num livro, a ordem e a combinação são tais… Também nunca percebi quem ocupa uma divisão enchendo logo as paredes com imagens, combinando logo cortinados com tapetes. Essa pressa assusta-me. Assustam-se as listas de casamento. Só de pensar que numa só loja (ou pouco mais) duas pessoas tiveram de escolher tudo e mais alguma coisa que lhes pudessem oferecer de uma vez. (não entendo muito bem as prendas de casamento) As casas montadas antes de se lá morar. Os móveis de várias casas todos comprados no IKEA. Muito design cansa-me. Os candeeiros de tecto colocados à pressa, com os fios eléctricos à mostra. Vê-se bem que ali não entrou o tempo, não entrou a vida dos dias que correm, os riscos dos nossos passos no soalho, o esmurro da porta onde batemos com o pé, aquela almofada um bocadinho manchada do dia em que comemos no sofá, os papeis, muitos pelos sítios onde ficam muito feios mas só ali os encontramos, a panela que era da avó, o móvel que os pais fizeram quando não tinham dinheiro para comprar um.
Podem ser tudo disparates, mas talvez por eles queira começar por uma casa pequenina, gostava que não fosse nova. Gostava de não ter pressa nela."

sexta-feira, novembro 18, 2005

what dreams do you dare to dream?

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quinta-feira, novembro 17, 2005

€ 1918,02

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1º. Afinal não era só chapa.
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2º. As minhas 4 horas de investigações por conta própria revelaram-se profícuas e deixaram-me, pelo menos, com vontade de investigar um pouco mais: o puzzle a que faltam as peças que apanhei do chão é um Seat Ibiza de 1991 a 1993; há cerca de 50 na zona de Coimbra, muitos deles no Ingote...
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3º. Apetece-me mandar à merda, publicamente, a Polícia que temos. Só não o faço (para já) porque quero acreditar que andam de facto ocupados com coisas verdadeiramente importantes.

definitivamente

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- é na certeza de um abraço que a vida inteira se segura -

quarta-feira, novembro 16, 2005

coragem!

o resto do teu dia só pode correr bem...

sexta-feira, novembro 11, 2005

ooops...

Tanto lhe tenho pedido para não se enganar, tanta atenção lhe exigem as coisas importantes em que o peço, que só posso perdoar-lhe estas pequenas distracções de fim de dia: não me despedi porque a minha cabeça se esqueceu que já não vamos juntos para casa.

quinta-feira, novembro 10, 2005

sopinha de entulho

G - Xiii… quem é que deu um pufo?
A1 - Um “pufo”?!! Este gajo é genial…
S - É da sopa… abre a tua que já vais ver…
A2 - Uma delícia! E quentinha que ela está!
S - Isso nem me importo… mas realmente escusava de ser só água com couves a boiar…
A2 - Então devo ter ficado com o fundo da panela. Olha para isto: parece que entornaram um copo de água num prato de feijoada...
M - Feijoada? A sopa tem feijão??
A1 - Sim… e uma mosquinha!
S - Tás a gozar...
A1 - Não estou nada. Mas é pequenina… que se lixe, vou comer na mesma!
G - Come, come… isto é melhor que Red Bull: dá-te aaaaaasas! Alguém quer uma bolacha?...
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(a verdadeira sopa de entulho vem da cantina da Casa de Pessoal dos HUC e come-se com colher de plástico na sala dos computadores da Ortodôncia, nunca antes das 3 da tarde. Custa 0,70€ e tem que se mandar guardar ao meio-dia porque (imagine-se...) esgota!)

quarta-feira, novembro 09, 2005

certezas

Deixemo-nos de tretas: as grandes conversas têm-se a dois; as grandes amizades confirmam-se a dois. Quando apetece, quando dá, quando calha. A dois. Com toda a simplicidade do mundo.
(Obrigada por, de passagem, continuarmos a ser tempo e motivo de paragem. Porque nos conhecemos melhor junto de quem nos conhece. E porque estava mesmo a precisar de entornar o vinho sobre a mesa... não estávamos os dois?...)

domingo, novembro 06, 2005

mezinhas

Eu hoje até me vesti de verde, até mudei de CD antes de ficar escuro lá fora, até saí de casa disposta a ver a segunda parte do Benfica, até conduzi um carro de rally...
Não vale a pena. O feitiço-de-domingo-à-noite não se quebra: adormece-se. Com leite, bolachas, um bom livro e uma cama quentinha.
Está quase...

estrela cadente

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deixar a vida acontecer
não esperar nada
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não fazer asneiras
não vos perder
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adormecer depressa
não sonhar esta noite
...
surpreender-me
entregar-me

sexta-feira, novembro 04, 2005

descobertas tardias

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EDWARD ESTLIN CUMMINGS
(talvez um dia aqui deixe o poema com que adormeço esta noite)

terça-feira, novembro 01, 2005

e para ti...

... um recado:
não devias pregar-me esta partida
não devias ter tirado os óculos
não devias...

para ti

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A certeza de que nunca te esqueceremos e de que a tua vida e a tua amizade continuam a unir-nos, a transformar-nos e a fazer-nos presentes junto de ti. Apenas com mais saudades.

para ti

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"The Mission", Ennio Morricone

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Somos plantadores de árvores.
Nascemos já com esta capacidade extraordinária, com esta sabedoria imensa para plantar e fazer crescer. E cedo percebemos que temos também toda a liberdade para a usar (ou não…) quando e como quisermos.
Plantamos a nossa primeira árvore quase por instinto, como um primeiro grito e, com o passar do tempo, vamos plantando mais algumas, muitas ou poucas conforme o jeito e o empenho de cada um nesta botânica da vida.
As árvores que plantamos têm nomes, formas, tamanhos, cores, funções e exigências tão diferentes como os dias que vivemos, mas todas, sem excepção, crescem ou morrem na medida do cuidado que tivermos com elas. (As árvores que não plantamos são apenas buracos, eternamente abertos na terra fértil, à espera de uma semente que vimos germinar e ignorámos, por preguiça ou por medo)
Assim, a nossa vida é como um trilho na floresta. Mais do que das marcas dos nossos pés, é feita das árvores que vamos plantando ao longo do caminho, em cada curva, a assinalar a escolha feita em cada encruzilhada… São elas que o tornam único e nos lembram que não fomos feitos para caminhar no deserto. (Os buracos, nem era preciso dizê-lo, são um perigo para quem caminha…)
Somos plantadores e não apenas semeadores.
Quem semeia, raramente percebe o dom que a semente encerra, raramente sabe se o solo que escolheu é o indicado, raramente espera mais de si do que do acaso. Por isso deita várias sementes à terra, em vez de uma só; e sabe que se não o fizer hoje pode guardá-las por muito tempo - as sementes, enquanto sementes, não vivem nem morrem.
Para plantar, pelo contrário, é preciso pegar na vida ao colo e olhar para ela antes de a pôr na terra. Plantar é um gesto único, individual e urgente, que exige de nós muito mais trabalho (de braços, de cabeça, de coração…) e que, ao mesmo tempo, nos desafia e compromete. Para que possamos plantar, alguém, infinitamente mais sábio e mais generoso, semeou e fez germinar aquilo que de outra forma lançaríamos à terra de olhos fechados, juntamente com tantas outras coisas; alguém que conhece bem cada semente, cada solo e cada um de nós e se enterneceu ao ver como tudo fazia sentido e podia ser tão bonito; alguém tão profundamente apaixonado pela nossa vida e pelas nossas árvores que tem sempre o cuidado de, a cada momento, só fazer germinar as sementes de que podemos cuidar. E quando assim é, o germinar de uma semente é o acender de um milagre, que escapa às nossas mãos e ao nosso entendimento mas que se apaga sempre que, com as nossas mãos e o nosso entendimento, não ousamos plantá-la e fazê-la crescer.
Por isso, de cada vez que recebemos o dom de uma semente germinada, vale a pena arregaçar as mangas e sujar as mãos para a aconchegar à terra. Vale a pena regá-la, cuidá-la e pedir a Deus que a aqueça, que a ilumine e que a abençoe. Vale a pena acreditar que dará flor, fruto e o mais que tiver que dar… E um dia, à sua sombra, valerá a pena dançar com os amigos e celebrar a vida!
(16.09.2003)
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Aqui tens de novo as palavras que te ofereci juntamente com a árvore que plantámos. Obrigada por mas lembrares.
Hoje, quando por um instante o sorriso do teu olhar atravessou a igreja para poisar no meu, senti-me invadir por uma paz e uma alegria imensas. Dois anos depois, nada podia fazer mais sentido. A tua vida, a tua entrega, a tua verdade… estava tudo ali, nos teus olhos e nas mãos de Deus. Comovi-me ao imaginar como será acreditar assim e ao perceber que a amizade pode ser o maior de todos os exercícios de liberdade.
As metáforas valem o que valem. Mas a árvore lá está.
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